quinta-feira, 18 de outubro de 2012

SEM FILOSOFAR DESGRAÇA


Foto - Ansel Adams
Sem filosofar desgraça, lembrou que hoje, o notar dos olhos dela decretou o fim de uma história velha. Deletou ela dos dois ao som de reggae para parecer mais ameno. As lágrimas deles viraram letras num papel de saudade para esconder o gosto amargo do descomeço.

Só queria ver seus olhos para que eles pudessem me pedir o que sua boca não conseguiu. Para que pudessem enfeitar minha retina. Intenso foi nosso nome do meio. Não sabia que este seria o final, mas eu quis contar essa história para nós dois. Possessão foi resumo das minhas vontades.

Abriu seus dias na minha história para poder sentir nos dedos todas as nossas entrelinhas. Ouvir a sua voz sempre hipnotizou todos os meus desejos em um só, assim guardei nas suas angústias a saudade de dormir de pele com você. Aceitar é para os conformados e não para os intensos, mas teimar teimosia é insanidade.

Lembrar você me fez pensar nós dois. Minha cabeça foi longe de mim quando refleti em ponto e fim. Acabamento, arremate, conclusão. Fecha o livro e começa outro. Prefiro ficar imaginando tudo que pode ficar enquanto você não rechega, mas até lá, adeus.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

VONTADE REPETIDA

Foto - Richard Avedon
Saudade é vontade repetida do que foi perfeito. Perseguiu o mundo das molduras mais lindas para imprimir o cheiro do corpo dela na tela da retina. Aprendeu pelo planeta a usar os versos da única língua que queria compreender, a dela, e surfou as ondas de água quente e salgada que brotava do seu desejo. Erupção de vontades úmidas na boca que estremece a voz e contorce a espinha.

Perdeu a expiração de frente para sol laranja que afundava para acordar o outro lado do planeta. Consumiu a virgindade que havia comprado em numerosas prestações de insucesso e matou a história do que foi, para recriar a fúria de algumas horas, dias e meses ensopando a cama deles de sussurros da barba atrás da orelha. Eriço freqüente dos crespos lambuzados que haviam raspado tudo deles no singular. Vácuo, deslize, impregnação do ir e vir demorado. Continuavam sendo dois juntos inseridos neles mesmos pelo tempo de abranger um lampejo branco e a falta do ar. Flashes, sorrisos e gemidos altos. Prazer de você.

Idéias impuras do frisson em contrações descontroladas. Vontades que não cessam, apetite que não some. Lembranças de hoje, anseios de contínuo. O sorriso dela chegou com a voz que havia sumido. Intumescimento, emudecimento, canto fúnebre do brado de quase morte em múltiplos jorros. Vivia!

A falta dela era a falta dos dois e o apetite dele nascia dela todos os dias no lençol vazio. Entre suas pernas sentia o arrepio da alma. Passou dias lutando contra o eco e sabia conscientemente com o aperto ansioso da boca do estômago, que saudade do que é perfeito, é vontade.