terça-feira, 27 de novembro de 2012

PECADO CONSENTIDO


Foto - Francesca Woodman
Já tive ciúme do que jamais tive, já tive desejo que desejasse. Saudade do silêncio ofegante de nós dois. Eu, você, nosso chão de amor bruto e algumas garrafas de vinho cheias de medo do querer excessos. Cada eriço do seu corpo foram as minhas letras mais úmidas. É difícil durar uma vida sem, porque nada pode ser melhor que o eco do cheiro de nós dois espalhado em verniz de corpo nu.

Engarrafei esperança de que meus dedos alcancem o calor que acende dos seus pêlos, como alcançaram quando eu ainda não conhecia a sua pele. Sinto falta do jeito com que seus olhos me sorriem desejos. Encrespo. Tara da minha barba em seu pescoço falando vontades baixas no temporal agudo atrás da orelha.

Tempo curto de você e da ponta da língua afogada na fumaça, num reflexo de lagoa ou no rastro no meio do mato quando o centro da lua tocava o ponto mais alto do céu. Hortelã e laranja em dois copos com gelo, sentados em pedra de varanda até as roupas saírem para qualquer lugar do quarto e dois para qualquer lugar de nós.

Vontade enjaulada do meu nome na tua boca, presa em gemido engasgado. Cupidez. Pecado consentido para desenhar língua na nuca. Nó na espinha. Cobiças quentes, arrepio. Apetite de pele, abraço de corpo e do meu lugar no lado canhoto. Desejo recorrente. Eu queria você de volta mais vezes no para sempre.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

REGGAE E LICOR DE MENTA

Foto - Man Ray
Ainda não esqueci de como perder a respiração de você, mas quero ir a algum lugar onde o desencontro de nos dois seja uma historia diferente. Já viajei você sozinho, imaginando o que seria o corpo que eu nunca mais conheci. Tesão de faísca, tara de alagar, choque na espinha, amor de alma. Vou redescobrir todas as tuas vontades que arrepiam na ponta da língua para encontrar seus olhos de frente aos meus de novo num giro de mundo.

Lembranças do vestido escorrido no chão. Você se despiu de pele para me entregar seu interior pulsante, enquanto eu fugia da sua insensatez. Condenei-me correndo da prisão das suas pernas e me perdi, sem ter mais para onde ir. Desfantasiei você nas minhas fantasias do samba de nós dois, e senti saudade do meu reflexo nos seus olhos deitados debaixo dos meus. Eu gostava mais quando você éramos nós dois.

D'yer Mak'er. “When I read the news that it told me, it make me sad”. No mar do forte, setenta por cento de mim é água, os outros trinta vontade de molhar a cama onde você marcou nosso território como bicho fera mostrando que aquela área lhe pertence. Desafiei, morri em minhas vontades, e sem pensar, a única herança que guardei foi o receio de falar tudo que sinto para tentar você de volta. Não foi ciúme, foi posse, porque rolar de pele com você é tão bom que eu quero egoísta só para mim, acreditando como criança que a nossa eternidade um dia é cume.

Ainda gosto do gosto de nós dois, dos hábitos adquiridos, da escova de dentes de ponta cabeça na pia, do cigarro escondido na varanda, do reggae e do licor de menta no beijo, porque a sua lembrança quente não ameniza a minha vontade da sombra de pele que sumiu do espelho do seu quarto. Tentei apagar seu nome da minha história, mas não consegui apagar a história do seu nome em mim.

D'yer Mak'er - “Quando eu li as novidades que me contaram, fiquei triste” – Led Zeppelin