domingo, 4 de março de 2012

CONTRASTE DE BRANCO NO BRANCO

Pânico eufórico inflava os pulmões. A ansiedade tomava conta do peito e a respiração afundava até os pés. Explosão de luzes. O mundo em slow-motion.

Era estranho como naquele momento os olhos funcionavam defeituosamente voltados para os detalhes. Eram incapazes de olhar uma paisagem sem picotá-la em tiras de minúcias.

Não queria saber da casa, procurava sempre a porta dos fundos. Imaginava que talvez os anjos, se realmente existissem, teriam uma posição melhor para registrar história. Tomada de um ângulo que ninguém havia experimentando antes. Inovação. Proteção. Fuga.

Perturbava-se com a maioria das pessoas que não conseguiam entender o contraste do branco no branco, com os vultos bizarros cujas caras derretiam e com animais que maltratam animais.

Um dragão que entrava e saía do mar e carregava com ele flores, um peixe e um demônio do bem, cuja máscara espantava os maus espíritos, faziam parte do protetor de sua existência, ele mesmo.

O horizonte avermelhado dava ânsia, de que não sabia. Viu fantasmas e recebeu ordens para sentar-se direito e acompanhar o encontro do mar com céu. Sacrificou sua sanidade para viajar e teve medo de nunca mais voltar.

Precisava de conforto. Deitou-se no colo dela de baixo para cima, sentiu o aconchego de seus seios quentes contra o rosto. Tentou abraçá-la pelo sexo mas não pode. Suas vontades haviam sido suprimidas. Carinho na têmpora e uma lágrima pingada.

A respiração encurtou, faltou espaço no peito, o abraço que já não havia foi ficando cada vez mais apertado, soluço viscoso e gosto de ferro na boca. Um suspiro e o ar não veio. Olhou o brilho do adeus e o desapontamento. Pediu socorro e ela não podia fazer nada, a não ser se despedir trancando para dentro a psicose fatal daquela sala branca.

2 comentários:

  1. Quem pode conhecer a alma de um poeta?
    Como descrever sentimentos em palavras?
    Palavras, sabedoria dos loucos e a loucura dos sábios.
    Parabéns + uma vez Poeta!
    BeiJanesss no coração.
    Jane Di Lello.

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  2. Busca, procura de respostas, desejos de compreender as nuances da vida, as benditas e as malditas entrelinhas as quais somos "convidados" a ler.

    As complexidades do existir nos faz tantas vezes nos interrogar: quem são os sanos, quem são os loucos? Que paradigmas a sociedade usa para definir tais conceitos? Enxergar as sombras do branco no branco é um passo para a insanidade ou o excesso de lucidez?

    Você trouxe a torna um pergunta que me perturba: _como compreender os animais que maltratam os animais? Mediante o animal considerado superior por sua racionalidade,me pergunto, poderia ser chamado de humano um ser que submete seu semelhante a tortura?

    Encantada com o texto! E que alegria encontrar minha amiga Jane Di Lello, aqui!

    Beijos!

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