segunda-feira, 17 de outubro de 2011

OFF

Já não sabia mais quantas vezes aquele pedaço de música se repetia na tela da TV. O filme tinha acabado há horas, e o menu do DVD estava lá pedindo para ser desligado, mas o vôo estava muito alto, naquela altura o que tinha virado barulho já não era perceptível .

O que incomodava sua cabeça naquele momento era o repeteco da cena. Quantas vezes aquilo já tinha acontecido com ele. As músicas do menu eram diferentes, a cena era a mesma.

Deitado num sofá velado em fumaça, os exageros do momento eram evidentes. Tentava esconder algo de si mesmo. De vez em quando ofuscava com sal nos olhos. Desespero socado goela abaixo, as vezes engasgava.

Dentre muitos transtornos, preferiu a sociopatia para poder se entupir de sorvete e chocolate, enchendo o estomago, o ego, e o espaço vazio etiquetado “esconderijo”.

Off. Estava na hora de desligar e apertar o botão do DVD, o que era fácil. Para ele o difícil era decidir o meio que escolheria para pressionar definitivamente o off da cabeça.

Tinha poucas lembranças da infância. Sem parentes para alimentá-las, vivia de outros como se fossem suas, memórias que julgava consistentes. Mãos na cabeça, levou o roteiro daquele filme até onde deu. Estava precisando um pouco dele mesmo. Revirou em todos os lixos conhecidos e não encontrou.

Fechou os olhos esperando não acordar no dia seguinte, era o melhor jeito que conhecia apesar de um único incomodo: o eco da cabeça insistindo com vigor... COVARDE!

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