segunda-feira, 7 de novembro de 2011

PREFERIA SER CEGO

Durante os ataques de ciúme ele costumava gritar para o quarteirão ouvir que preferia ser cego a vê-la de conversa sensual com outro homem.

Ela negava, sempre dizia que a conversa era pudica, e que não havia motivo para toda aquela crise. Mentia sem saber.

Ela tinha a pele pervertida e os olhos devassos. Exalava sexo pelo espírito. Linda, desfilava com todos os seus defeitos de fabricação escondidos do grande público debaixo de muito ansiolítico.

Ele declarava sua paixão todos os dias. Exaltava a beleza do seu miolo e todas as suas curvas saborosas. Ficava tão extasiado de elogiá-la que ao final de cada conversa teimava em roubar um beijo. Ela fingia que não aprovava sem mover o rosto e o sorriso, mas não confiava no amor declarado.

Amantes de alma, perdidos de si pela vida. Ele não cansava de insistir, ela não cansava de questionar por quê?

Afastaram-se por alguns pares de calendários até quando ela o encontra envelhecido na rua, andando com uma bengala e olhar estático, brilhante e perdido. Havia escorrido a vida dos olhos. Nesse momento, com um par manco de olhares, e sem que ele percebesse, foi que ela ouviu seus anúncios dedicados. Ressoaram no eco que ela tinha em si desde o dia que ele partiu por desistência.

Casaram-se semanas depois, e feliz ele se contenta em tê-la no escuro para admirar a beleza do rosto e a delícia das curvas com as pontas dos dedos, e o suor da boca com a ponta da língua.

5 comentários:

  1. Nunca é muito tarde para o amor!
    Delicioso conto!

    Um abraço!

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  2. Sua originalidade me encanta... sempre!

    Pode ter certeza disso, querido...

    Muitas vezes, os sentidos são pretextos...

    Um beijo carinhoso e, por favor, nunca abandone a escrita!!

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  3. Amore!
    A cada dia você se supera em qualidade, sensibilidade, originalidade e por aí vai.
    Sou sua fã! A maior!!!!

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  4. Lindo texto!
    Adorei o blog!

    Abraços Ariane.

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  5. O que importa é a beleza harmônica do "ser", que até um cego pode “ver". Parabéns escritor! Textos maravilhosos! Um abraço.

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