quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

EU NÃO A SUPORTO MAIS (ADEUS)

*em homenagem aos 458 anos da cidade de São Paulo

A cada dia ela parece pertencer cada vez mais aos outros e menos a mim. Possessividade entranhada entre os músculos dos nascituro. Talvez eu não a queira mais, talvez a esteja perdendo em algum lugar do meu corpo.

Lembro que quando as luzes acendem, por um momento ela respira menos ofengante. Mas basta o primeiro estampido para ela voltar ao estado de alerta absoluto. Loucura controlada, ou quase.

Uma relação de ódio se instalou no meu amor por ela. Não a quero mais, rejeito, abandono, abdico, cedo, recuso, largo. Adeus. Mas é minha, me pertence. Dali vem minha essência, minha ira e minha indescritível idolatria. É claro que é amor.

Está na hora de virar as costas para a porta e caminhar para um lugar menos meu, onde ela fará falta apesar de ainda ser minha. Simplesmente não a suporto mais. Dúvida, ambigüidade, suspeita.

Ela está misturada no meu sangue e filtrada por meu rim. Carne da minha carne que foi transmitida no DNA. É impossível viver um dia sem ela mesmo quando estou longe. Carrego comigo nos bolsos. Em qualquer parte do planeta, do deserto mais árido, às paisagens mais maravilhosas, se movendo apenas para acompanhar o movimento do globo, ela está comigo no pulsar das veias das 6 da tarde.

Passear nela é apaixonante. Cada pequeno beco inacessível que a forma me cria explorador. Amo os espaços vazios, lugares onde passei dentro dela meus maiores prazeres. Suor, tesão, vida.

Aglomeração, gritaria, desconforto, compressão. O latejar do centro nervoso ofegante. Cicatrizes, alimento. O sangue bombeado em alta pressão vinte e quatro horas, ansiedade, aflição e agonia. Ela é louca e obviedades.

Como pode tão ser apaixonante na hora de não olhar prá trás? Declaração de amor às avessas, mas é isso. Na hora de ir por amor irei, mas carregarei minha cidade comigo, pois eu não a suporto mais, mas sem você São Paulo, me desmancho como areia seca num monte de nada.

3 comentários:

  1. Adorei, realmente amas a terra que tu vives. :D
    Meus parabéns pelo texto, realmente deu para saber a profundidade de teu sentimento. (;
    Sucesso SEMPRE, abração.


    Ewerton Lenildo – Academia de Leitura
    Papeldeumlivro.blogspot.com
    @Papeldeumlivro

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  2. Olá Marcello! Saudações Literárias.
    Passei por aqui e achei muito bem cuidado e interessante o seu espaço.
    Parabéns!
    Sempre que eu puder voltarei para ver as novidades.
    Bom Ano Novo.
    ♥ Abraços de Luz.

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  3. Que delicia ler seu texto!!! Tem um ritmo próprio< parece música, sei lá! Amei seu blog e passo a segui-lo por aki tb, agora mesmo =)

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