sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

SEDAÇÃO



Bastavam quatro ou cinco gotas e ele sabia exatamente o que aconteceria a seguir. Viajar. Seriam alguns minutos de prazer intenso. Uma sensação de paz e tranqüilidade. Êxtase profundo. Era esperar bater. Poucas voltas do ponteiro dos segundos. O universo mudava de cor. Cores espocando diante dos olhos de uma forma que beira a diversão. Tudo é maravilhoso. A sensação de expirar todos os erros, encaixotar todos os pregos. O bem estar absoluto era possível uma vez ao dia, mas poderia ser viciante. Também não se permitiria abusar das gotas por mais que um par de calendários. Era conforto químico temporário. Para alguns perigoso. Besteira! É um químico antigo, usado por milhares de pessoas ao redor do mundo buscando uma única sensação. Sedação. Aproveite o vôo. Um alívio. Paz sintetizada. Colírio. Conforto quase imediato. Lenitivo, era a melhor sensação a cada vinte e quatro horas. Desafogo. Bem estar branco. A respiração diminuía junto com os olhos. A pressão também. O coração dançava Bob Marley. As luzes se reduzindo, um sorriso de soslaio ficou ensaiado e enfim ele pode dormir graças a altas doses de clonazepam que matavam com sabor doce, deliciosamente, todos os seus dias de ansiedade.

3 comentários:

  1. Parabéns Poeta!
    Seus textos e poemas não são de fáceis compreensão, + quando entendidos em sua plenitude são delírios e deleito para a alma, e êxtase para o coração.
    BeiJanesss neste coração de luz.
    Jane Di Lello.

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  2. Aqui fiquei na dúvida se ela iria matar só a ansiedade ou a si mesma... Fica para a imaginação de quem lê!

    Abço

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  3. Queria por um momento ficar longe dos erros e sentir esse bem estar absoluto...

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