domingo, 18 de março de 2012

TATEANDO NO ESCURO

Desesperou-se quando abriu os olhos e não viu nenhuma luz. Escuro absoluto. As pernas dos olhos não se mexiam mais. Estava paralítico da visão. Tateou e encontrou as paredes nas pontas dos dedos. Podia se mover. Violino e bandoneon. Ouvia pelos poros.

Não se lembrava muito bem de como tinha ido parar ali, mas lembrava dela. A boca de algodão passeando por seu corpo ao norte. Seios firmes e arrepiados acompanhavam a circulação enquanto o calor do miolo das coxas molhava as dele. Contorção retorcida na coluna.

Desdobrou os joelhos para cima acompanhando o desenho liso das paredes em vê. Três passos e bateu num móvel baixo. Talvez a cama estivesse ali perto. Talvez fosse o quarto. Talvez ela estivesse ali. Talvez fosse uma brincadeira. Talvez tenha sido o ácido lisérgico. Estava simulando esquizofrenia, ou estava seu cérebro mais acessível?

Abaixou-se e descobriu o lençol e o travesseiro. Acalmou-se por um momento pois seu corpo já estivera ali, talvez. Tateou pelo espaço e encontrou o desenho macio e redondo de sua bunda debaixo de uma pele de tecido frio. Suou.

Subiu a mão vagarosamente pela cintura que ele havia apertado com as palmas, a lateral do seio completo e pelo ombro delicado de gente pequena, buscando encontrar seu pescoço com as unhas e sua boca com a língua.

Morreu catatônico quando sentiu seu beijo gelado e a falta de alma em seu corpo.

3 comentários:

  1. Com certeza você deve ouvir isso sempre, mas cara, você manda super bem!!!

    Parabéns e sucesso!!!!

    http://assuntospadrao.blogspot.com.br/

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  2. Que arraso esse texto :) uaaal, adorei. bem intenso *-*

    Parabéns!

    papeldeumlivro.blogspot.com

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  3. Lindo Príncipe poeta, seus textos e poemas são tão intensos, e profundos mostrando sempre que, o talento é a facilidade habitual da expressão.
    Parabéns + uma vez.
    BeiJanesss no coração.
    Jane Di Lello.

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