terça-feira, 25 de outubro de 2011

POESIA DE 1h30

Ele estava jogado no sofá. O cão, o cara, parceiro deitado a seus pés. Nem o cachorro o entendia mais. As coisas não o interessavam. Televisão ligada com alguma imagem que não importa o que era. Pensava nela. Levantou-se, foi até a cozinha fuçar a geladeira como num hábito maldito que precisava executar, apesar de saber que a geladeira estava fazendo eco. Nem uma porra duma garrafa d'água estava ali. Tinha gelo no freezer. No armário havia uma barrinha de cereal, um pacote com quatro bolachas de aveia e um saco de chá instantâneo. Chá, gelo e vodka. Voltou para a sala carregado. Na mesa o copo cheio de vodka quente ao lado da garrafa pela metade. Misturou tudo e mexeu com o dedo. Hábito de brasileiro, no mundo, o único povo que mexe o drink com o dedo. Um gole. Desceu rasgando a garganta. Era melhor esperar o gelo derreter mais um pouco. Pensou nela outra vez e nos Bloody Marys que tomaram juntos. Mais de duas da manhã. No corredor colocou o i-pod no ouvido. A mesma musica. Inevitavelmente pensaria nela. Foi para a cama. Na cabeceira um livro de José Resende Junior: “Mulher Gorila e Outros Demônios”. Lembrou-se de Bang Bang. Texto fantástico. Teve vontade de ler um pouco. A vontade mudou. Transformou-se em vontade de escrever. Pensou qual poderia ser o assunto. Estava feliz e não era efeito do álcool. Pensou que Hemingway tinha razão: "Todos os bons livros se parecem: são mais reais do que se tivessem acontecido de verdade." Taí, iria misturar ficção e realidade, receita antiga, mas com pitadas do seu jeito torto de escrever, e talvez aproveitasse para inventar uma historia qualquer, sobre algum personagem, só pra dizer que pensava nela, e já eram três e meia da manhã.

3 comentários:

  1. É, brother, do sofá aos pés da amada, foi um caminho interessante e agradável. Pintou uma Mulher Gorila, pintou Bang Bang, verbalizou um Hemingway, que segundo as numerosas más línguas e tendências de mercado negro, era também chegado num goró, ainda que não girasse água solida com o dedo. Marcello, quantas vezes me convidar eu virei, amigo. Deixo um abraço e algo não muito delicado, mais comercial até, eu diria:

    “Que a escrita me sirva como arma contra o silêncio em vida, pois terei a morte inteira para silenciar um dia” (Jefhcardoso)

    Convido para leia e comente “A PEQUENA LOJA” em meu blog http://jefhcardoso.blogspot.com e, caso goste, conto com a sua divulgação para ao menos mais um amigo; obrigado!

    ResponderExcluir
  2. Bom retrato, Marcello. Do desencontro à descoberta, uma única verdade: a penosa solidão.

    ResponderExcluir